domingo, 7 de novembro de 2010

1. INTRODUÇÃO


            O objeto mais importante dentro da cultura de um povo é sua língua. É pela língua que as tradições de um determinado povo são mantida de pai para filho, de geração para geração. Durante toda nossa graduação, tivemos como meta estudar de uma forma mais abrangente a influência que a língua portuguesa exerceu sobre as línguas dos aborígines que habitavam o Brasil antes do “descobrimento”. Nosso foco volta-se para a Etnia Xukuru do Ororubá, que tem sua reserva indígena localizada dentro do Município de Pesqueira, distante 213 km da capital do Estado – Recife. 
As sociedades indígenas que conviveram por muito tempo em contato com a língua portuguesa, perderam a sua língua nativa, passando a falar somente e tão somente o português. Algumas destas línguas não são mais faladas e não há qualquer registro vocabular sobre elas. Outras possuem alguns vocábulos registrados, mas que não são utilizados, a não ser pelos integrantes mais idosos da etnia, o que fará com que a língua seja esquecida e tenda ao desaparecimento. A história da língua portuguesa no Brasil foi marcada por uma interação lingüística entre o português arcaico e a língua dos índios Tupi e vice-versa. Até o século XVII as “Línguas Gerais” foram utilizadas até que no século XVIII ocorreu a supressão pela língua portuguesa. O período em que os padres da Companhia de Jesus permaneceram em terras brasileiras (1549-1759) está associado a uma difusão da educação através da língua dos dois povos, por todo o Brasil, tendo como base a obra do padre José de Anchieta denominada de “Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil”, de 1595. A língua indígena não possuía escrita e a comunicação acontecia através de vocábulos próprios, de sinais etc. Quando houve a “interação” das línguas, não ocorreu a preocupação da manutenção dos sons dos vocábulos Tupi, apenas foi utilizado o sistema fonético do português e o latim, ignorando a pronuncia correta da língua nativa.
Do mesmo modo, ocorreu com a língua dos índios Xukuru do Ororubá quando “receberam” os colonizadores e padres oratorianos (1654-1661), que trouxeram já uma diretriz lingüística baseada na gramática da Companhia de Jesus de autoria do Padre Joseph de Anxieta (José de Anchieta), e a associaram a linguagem dos Xukuru, convivendo até 1759 juntas quando a língua portuguesa foi imposta como sendo a única e oficial a ser falada. Não diferente das outras línguas e dialetos que se falava no Brasil colônia, também a língua Xukuru tornou-se desconhecida para todos. Até a identidade histórica do povo Xukuru é desconhecida, levando alguns estudiosos do assunto a classificar esta etnia, em uma mesma obra, como pertencentes a duas Nações diferentes: a dos Tapuias e a dos Cariri. Não obstante, essas duas denominações têm o mesmo significado, pois, os Cariri são índios Tapuias e, Tapuias[1] era a denominação dada pelos índios Tupi aos não – tupi.

“..era então Cimbres uma aldeia habitada pelos índios Xukurus, da nação dos Tapuias, que se espalhavam por toda a Serra do Ororubá; e pelos Paratiós que ocupavam os contrafortes desta (Serra do Jardim, Jitó, Gavião, Varas etc). Os índios que a habitavam (Cimbres) atingiram a cêrca de 700. Havia outra aldeia, a do Macaco, ao Sul daquela e não muito longe da mesma...” (ALMEIDA, 1980).

            Para ALMEIDA (1980) ficou constatado que além dos índios da tribo Xukuru, outras duas também habitavam a serra do Ororubá, nessa mesma época.

“...sendo habitada pelos índios bravios Pancarurus da nação cariri da qual procediam também os Xucurus e os Paratiós, ocupantes que foram da Serra do Ororubá e ramificações...” (ALMEIDA, p.369).

O objetivo primordial deste trabalho investigativo, é o de levantar dados de causas e efeitos na cultura lingüística da Etnia Xukuru do Orubá, hoje Ororubá, como tentativa de preservar o que restou de sua língua, revelando tanto a influência etnocêntrica da língua do colonizador português, quanto os termos próprios da linguagem Xukuru, ainda hoje conservados em seu cotidiano, observando através de análise do léxico dessa etnia em comparação com o de outras da região Nordeste








2. JUSTIFICATIVA


            Partindo do pressuposto legal que todos têm direitos iguais, do respeito à dignidade e a cultura de cada um, nossa pesquisa tem um caráter multicultural diante do fato que estamos tentando fazer um resgate da língua de uma etnia que se pensava extinta. Desde a antiguidade a língua foi sempre utilizada como um dos meios de manter o poder do conquistador em detrimento do conquistado. Assim foi com a cultura de vários povos sob o julgo romano, e, mais recentemente, com os povos conquistados no novo mundo pela “cultura etnocêntrica” inglesa, espanhola e portuguesa.
            Parece-nos importante pesquisar e tentar fazer um resgate da cultura lingüística da etnia Xukuru,  que por séculos habitava estas paragens, atual cidade de Pesqueira, e hoje seus descendentes lutam para preservar o pouco que restou, diante do avassalador poder etnocêntrico do colonizador português.



















3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Segundo Maria Tereza Camargo Biderman, em “As Ciências do Léxico”, 1998, Campo Grande / MS, editora UFMS, o léxico relaciona-se com o processo de nomeação e com a cognação da realidade de um povo, que por meio da lexicologia e de outras ciências como a Dialetologia e a Etnolinguistica realiza estudos sobre Palavras - Coisas, isto é, as relações entre língua e cultura. Também segundo a mesma, podemos utilizar a Lexicografia, surgida nos séculos XVI e XVII com os primeiros dicionários monolíngues e bilíngües. É bastante comum, ainda nos dias atuais ouvir leigos falarem sobre línguas primitivas, repetindo até o mito já desacreditado de que há certos povos cujas línguas consistem apenas em umas poucas palavras complementadas por gestos. A verdade é que todas as línguas até hoje estudadas, não importa o quanto primitiva ou incivilizadas as sociedades que as utilizavam nos possam parecer sob outros aspectos, provaram ser, quando investigadas, um sistema de comunicação complexo e altamente desenvolvido. Embora os sistemas lingüísticos, de uma forma bastante ampla, sejam independentes do meio em que se manifestam, o meio natural primeiro da linguagem humana é o som.
 Por isto, o estudo do som tem uma importância maior no estudo da lingüística do que o estudo da escrita, dos gestos ou de qualquer outro meio, real ou potencial, em que se desenvolve a língua. É o estudo da fonética. Porém, não podemos confundir fonética com fonologia. O meio fonético pode ser estudado sob três aspectos: o articulatório, o acústico e o auditivo. A fonética articulatória estuda , investiga e classifica os sons da fala em termos da maneira como são produzidos pelo órgão da fala; a acústica, em termos das propriedades físicas das ondas sonoras criadas pela atividade do aparelho fonador e que se transferem no ar de falante para ouvinte; a auditiva (de suma importância à nossa pesquisa), em termos da maneira como os sons da fala são percebidos e identificados pelo ouvido e celebro do ouvinte. A integração dos três ramos da fonética não é simples. Uma depende da outra e as três se completam.
Toda língua dispõe de um vocabulário, ou léxico, que é complementar à gramática na medida em que o vocabulário não sé lista os lexemas da língua (indexados pelas formas de citação, ou radicais ou, em principio, qualquer outra forma capaz de distinguir um lexema do outro), como também associa a cada lexema todas as informações necessárias às regras da gramática . Estas informações são de dois tipos: sintáticas ou morfológicas, conforme Lyons (1987, p. 73).
            Sem a linguagem a cultura humana seria totalmente impossível. Todos os animais que sentem se comunicam e alguns, como as abelhas e as doninhas, fazem-no muitíssimo bem. Mas somente os seres humanos são capazes de generalizar, de dar explicações e, assim, constituir o corpo de tradições que pode ser identificado como cultura humana. O que não é claro a respeito dos animais que não são seres humanos é até que ponto seus padrões de comunicação são aprendidos.
Os  seres humanos aprendem uma língua do mesmo modo que aprendem uma cultura; não nascem com a linguagem. Assim, a linguagem é “um  sistema distintamente humano de comportamento, baseados em símbolos orais” que são “usados  para descrever, classificar e catalogar experiências, conceitos e objetos”. Portanto, a linguagem é um sistema especial de comunicação, que é especialmente oral e simbólico. E é um aprendido. As línguas em si mesmas são isoláveis, únicas, e idiossincráticas, mas ao mesmo tempo, a  língua é língua – em si mesma, em fenômeno humano comum. Assim, uma percepção totalmente relativista das línguas pode ser errônea. As línguas podem  diferir acentuadamente uma das outras, mas a diferença é de grau e não de espécie. Todas as línguas empregam sons, todas atribuem significados a expressões vocais simbólicas. Som e símbolo, é verdade,  podem diferir muito de grupo para grupo e de área para área; entretanto, os indivíduos falam, e isto é universalmente verdade.  Os sistemas de escrita são invenções que remontam às idades do Bronze e do Ferro e o termo língua  “primitiva” é usado, geralmente como sinônimo de “não-letrado, o que não quer dizer que esta língua não tenha um valor, pelo  contrário.  O método mais rápido para se descobrir se duas línguas estão relacionadas é comparar seus vocabulários ou suas formas lexicais (método comparativo), onde podemos encontrar algumas palavras em comum, onde deve haver uma ocorrência de palavras em número significativo e suas significações devem ser ou estar associadas, de acordo com Hoebel e Frost (1976, p. 144/158).
            A língua de um povo tem como característica principal o fato de propiciar a interação social, sendo toda a sua dinâmica evidenciada no léxico. O português brasileiro, variante lingüística do português europeu introduzido no Brasil nos séculos XVI e XVII não é homogêneo, regionaliza-se recebendo até influências de outros povos europeus, segundo Oliveira (1998, p. 67).
Também sobre este tema podemos citar Mônica Rector em “A Linguagem da Juventude: uma pesquisa geo-sociolinguística” (1975, p. 33): “A língua é um sistema de intercâmbio humano, produto de um grupo social que tem a cultura como base de sua comunidade. Quando as raças alcançam uma comunidade de cultura, formam uma comunidade lingüística.”
As línguas estão envolvidas num complexo fluxo temporal de mutações e substituições, de aparecimentos e desaparecimentos, de conservação e inovação. Vale dizer, as línguas têm historia, constituem uma realidade em constante transformação no tempo. É com essa realidade e com o material empírico que o  estudioso de lingüística histórica se ocupa. Reconhecido o fato de que as línguas mudam no eixo do tempo, busca-se, então, dar a esse fato um tratamento cientifico, o que significa realizar, dentro de quadros teóricos definidos, descrições dos diferentes processos de mudanças ocorrentes na história de uma língua ou de uma família de línguas; e, ao mesmo tempo, construir uma hipótese de caráter explicativo para os fenômenos descritos, com base em  pressupostos mais gerais  a respeito da mudança lingüística como um todo. A lingüística histórica ocupa-se, então, fundamentalmente com as transformações das línguas no tempo; e os lingüistas que nela trabalham procuram surpreender, apresentar e compreender essas transformações, orientando-se, na execução dessas tarefas, por diferentes sistemas teóricos, segundo Faraco (1998, p. 17).  
Em alguns momentos estaremos fazendo uma contextualizarão entre  a lingüística histórica e a história da lingüística, já que se faz necessário, em certos momentos de resgatar, recuperar as origens e o  seu desenvolvimento no tempo (história da lingüística) e em outros, seguir em direção ao estudo das mudanças que ocorrem na língua humana – no caso da Etnia XuKuru – à medida que o tempo passa (lingüística histórica).
O conservadorismo da língua escrita deu-se pelo fato de que o meio utilizado para sua realização é uma substancia mais duradoura (papiro, seda, papel, couro etc) do que o som tem uma dimensão de permanência mais eficiente que o som e adquire um controle social mais intenso sobre ela que sobre a parola (fala) daí vem o padrão mais conservador da linguagem, (FARACO, 1998, p. 87).
Aí esta, no nosso entendimento, o motivo principal da morte de toda a cultura lingüística das tribos – ou de sua maioria – do Brasil, a oralidade de sua língua, que fez com que a cultura lingüística do dominante, escrita, subjugasse de uma maneira antropófaga as demais línguas existentes.
A escrita propicia uma memória muito mais duradoura que a fala, pois esta possui uma memória mais curta.  Não são pouco os exemplos de civilizações que foram castradas em sua cultura lingüística por meio da violência (caso do império romano que adotava o latim em todos os seus domínios como forma de manutenção do poder e, que fez com que várias línguas e dialetos desaparecessem definitivamente).
As mudanças dentro de uma determinada língua podem ocorrer de varias maneiras ou todas de uma só vez e podem ser de caráter fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico, pragmático e lexical. Do mesmo modo as mudanças possuem características que são atualmente mais ou menos consensuais entre os estudiosos da língua e podemos definir algumas de suas características:
  • A mudança é continua: ela passa por transformações no decorrer do tempo, mutabilidade que se da de forma continua, ininterrupta e ocorre com todas as línguas, ocorrendo como resultado de um processo histórico  longo  e continuo.

  • A mudança não ocorre de um momento para o outro, ocorre sim de uma forma lenta e gradual, de uma língua para outra, de um estagio para outro, nunca é global e integral. A mudança é discreta, dentro de um período de coexistência e concorrência entre duas línguas, quando ocorre a vitória de uma sobre a outra. Como exemplo temos o que ocorreu com o latim em Portugal – e por que não dizer na península Ibérica – que foi substituído não de uma hora para outra pelo português, mas ao cabo de vários séculos. Assim também, presumimos,  ocorreu com a língua do povo Xukuru, que sofreu a interferência do língua lusitana por vários séculos e o resultado hoje se apresenta de uma maneira muito caótica.

  • A mudança e (relativamente) regular: não ocorre de forma fortuitas, sem rumo, ou a esmo. Ocorre de forma bastante sistemática, pela regularidade e generalidade dentro de um  processo.

  • A mudança emerge da heterogeneidade, onde a língua é  realidade essencialmente social, recebendo influencias tanto interna quanto externa (ver em Lass, 1982; Martinez, 1955; Weinreich, Labov e Herzog, 1968 e Saussure, 1970). As mudanças sociais e a heterogeneidade lingüística  criam condições para a emersão  de mudanças lingüísticas e que no começo do século XX foi  utilizado termos específicos para caracterizar estas mudanças por meio de diferentes situações de contacto:

a)      Substrato: designa a língua que uma população utilizava e que por uma razão ou outra ou por varias razões (invasão, conquista por outra população) é abandonada e substituída por outra (a língua dos celtas que foi substituída pela dos romanos – Latim).

b)      Superestrato: é quando uma determinada língua é introduzida na área de outra, sem porém substituí-la, podendo vir com o tempo a desaparecer. Exemplo disto são as línguas dos povos bárbaros ou germânicos que invadiram o Império romano e adotou com o passar do tempo o latim como língua.

c)      Adstrato: é uma língua falada num território contíguo àquele em que se fala a língua tomada como referencia. Exemplo temos o espanhol como adstrato do português na fronteira do Brasil com o Uruguai.

Ainda sobre o fato de uma língua sobrepor-se a outra, no caso do começo da colonização brasileira pelos portugueses que adotaram a língua da Etnia Tupi marcou muito até hoje a nossa língua portuguesa falada no Brasil atualmente onde encontramos muitos vocábulos saídos do Tupi e adotados pelos jesuítas, segundo MARROQUIM, 1996, onde ele nos mostra que todo o Nordeste e, principalmente Pernambuco e Alagoas sofreram muito a influência desta língua através dos ensinamentos dos padres.
Os povos que habitavam o litoral do Brasil eram em sua maior parte falantes de línguas do tronco Tupi. A maioria foi dizimada, dominada ou refugiou-se em terras interioranas para evitar o contato com o homem branco. Atualmente, só os Fulni-ô (PE), os Maxakali (MG) e os Xokleng (SC) conservam suas línguas, migraram do Oeste em direção ao litoral em anos relativamente recentes. As demais Etnias indígenas que habitam no Nordeste e Sudeste do Brasil só falam a língua Portuguesa, mantendo, em alguns casos, vocábulos espessos,  usados em rituais e outras  expressões culturais. Presumimos haver hoje no Brasil pelo menos 180 a 200 línguas faladas por tribos ou segmentos da população em todo o território nacional.
Na classificação genética, reúnem-se numa mesma classe as línguas que tenham tido origem comum numa outra língua mais antiga, já extinta, de forma que, as línguas  faladas pelos diversos povos da Terra são agrupados em famílias lingüísticas, e estas famílias são reunidas em troncos lingüísticos, sempre buscando uma origem comum numa língua comum. No Brasil, as línguas são agrupadas em famílias, classificadas como pertencentes aos troncos Tupi, Macro-Jé e Aruák. Porém, há famílias, entretanto, que não puderam ser identificadas e relacionadas a nenhuma dessas famílias ou troncos, entre elas, Karib, Pano, Maku, Yanoama, Mura, Tukano, katukima, Txapakura, Nambikwara e Guaikuru. Outras línguas não puderam também ser classificadas até o presente momento, por nenhum lingüista, em dentro de nenhuma família, permanecendo como não-classificadas ou isoladas, dentre elas a língua dos Tukúna , dos Trumái, dos Irântxe, dos Xukuru etc.
Ainda existem as línguas que se subdividem em diferentes dialetos, como  a dos Krikati, Ramkokametrá (Canela), Apinayé, Krahó, Gavião (PA), Pukobyê e Apaniekrá (canela), que são, todos, dialetos diferentes da língua Timbira.

Toda língua apresenta heterogeneidade e, por tratar-se de um intercâmbio humano, quando ocorre a interação entre a língua do colonizador português e a língua nativa dos Xukuru, há um predomínio da língua do mais forte, que influencia de forma acentuada e decisiva a cultura do mais fraco.





















4. RESUMO HISTÓRICO DA PESQUISA


 1654 – Segundo documentos da época, no ano de 1654, ocorre o primeiro contato entre os índios da Tribo Xukuru e os colonizadores portugueses que haviam recebido títulos de proprietários de terras no interior da Capitania de Pernambuco do Rei de Portugal, entre eles João Fernandes Vieira.

1661 – Chegada dos Padres Oratorianos à Serra do Orubá, chefiados pelo Padre João Duarte do Sacramento, onde fundam a Missão do Orubá e dedicam-se principalmente à catequese dos indígenas e à educação infantil para os herdeiros dos colonizadores. Durante esse período, a língua portuguesa e a língua Xukuru foram utilizadas paralelamente e em conjunto pelo que se denominou de “línguas gerais” (uma mistura da língua nativa e do português, em todas as capitanias hereditárias).

1757 – Entre 1750 e 1777, no governo de D.José I, assume como  primeiro ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), que acaba com o regime de capitanias hereditárias e, implementou alterações principalmente no campo político – administrativo e  da Educação, pelas chamadas “Leis Pombalinas” que entre outras coisas dizia: a) todos os povoados e vilas receberiam o nome de povoados portugueses e foi neste momento que a Missão do Orubá, que era então conhecida como Monte Alegre, passou a ser chamada de Cimbres; b) Estava proibido o uso das “Línguas gerais”, tornando a Língua portuguesa como única a ser falada e ensinada na colônia e, punição severa para os que desrespeitassem esta determinação. 

1759 – Expulsão dos Padres do território brasileiro, principalmente os Jesuítas que estavam no Brasil desde 1549 e a adoção das Aulas Régias em substituição do Ratio Studiorum  adotado pelos Jesuítas.

Atualmente a Etnia Xukuru encontra-se distribuída por 23 aldeias em uma Reserva Federal, localizada no município de Pesqueira, Estado de Pernambuco, seu habitat natural muito antes do “descobrimento” do Brasil e tem aproximadamente onze mil componentes.


5. GRAMATICA DA LÍNGUA XUKURU

  1. A língua do povo Xukuru, como todas as demais línguas faladas pelos nativos brasileiros – cerca de 1.300 línguas, segundo estimativa – não possuía escrita, baseavam-se apenas na sonoridade (fonética) e em sistemas de sinais. Sendo assim, torna-se  um pouco difícil a pesquisa da língua, o que torna o nossa pesquisa muito mais prazerosa.

  1. Não encontramos artigos definidos ou indefinidos.

  1. Há inúmeros substantivos:

a) Primitivos:        Cobâ – banana
                             Clarin – dia
                             Crexer – lenha
                             Kiya – fogo
                             Kriphu – menino
                             Taiophu – pai / padre
                             Zetona – gato

b) Derivados:        Kricru – escuridão
                             Kurisiba – lagartinha
                             Urikazogu – aguardente

4) Há muitos adjetivos: Camambago –covardia
                                         Carvio – doce
                                         Gonegomigo – bonito
                                         Intuco – curto
                                         Irum – ruim
                                         Bremen – bom
                                         Kreo – Pequeno
                                         Piraba – muito
                                         Xicruma – reto
                                         Yoagó – comprido
                                         Ien – bêbado

5) Verbos: não tem uma terminação especial para indicar pessoa, tempo, modo ou mesmo para o infinitivo.
                  Ex:      Istom – fumar
                             Jurur – defecar
                             Kixô – amaldiçoar
                             Noiem – falar
                             Ombrera – correr
                             Ombrera Motogue – viajar
                             Ucrin – comer
                             Xacon – casar
                             Arago – brigar
                             Zegu – Urinar
6) Não encontramos qualquer alusão a numerais, fato que não nos causou estranheza já que, na língua indígena não era comum haver artigo que definisse quantidades acima de quatro.

















6. FONÉTICA DA LÍNGUA XUKURU

                  Depois de pesquisas junto a moradores de aldeias Xukuru, constatamos que a língua por eles falada e mantida até hoje pelos mais velhos tem os seguintes padrões fonéticos:

1- “a”        Vogal média, oral, aberta. Como “ave” no português. Ex: abaré, adame, aiyo, ambera.

2- “b”        Fricativa, bilabial, sonora. Como “v” no espanhol em “viejo”.  Ex: batoki, batukin, bengo.

3- “c”        ainda em pesquisa...

4- “e”        Oral, aberta como em “pé”. Ex:  entaiu, eniye.

5- “g”        Fricativa, velar, sonora. Como em “gato”. Ex: goxe, girimataia.

6- “i”         Semivogal nos ditongos e nos tritongos. Como o “y” espamhol em “yo”. Ex: ionji.

7- “k”        Oclusiva, velar, surda. Igual a “casa”. Ex: karuza, katengo.

8- “m”       Nasal, bilabial, sonora. Como em “mesa”. Ex: memengo, memby, menyin.

9- “n”        Nasal, bilabial, pré-alveolar. Como em “nariz”. Ex: nanegu, nantu.

10- “nh”    Nasal alvéolo-palatal sonora. Como “nh” em “aranha”. Ex: nhoémbiá.

11- “ng”    Nasal, velar sonora. Como o som do “ng” em “ângulo” com a pronuncia do “g” quase imperceptível. Ex: nggutimae.

12- “o”      Vogal posterior, oral, aberta. Como em “nó”. Ex: okor, opip.

13- “p”      Oclusiva, bilabial, surda. Como em “pá”. Ex: papesaca, pirasa.
14- “q”      ainda em pesquisa...

15- “s”      Fricativa, dental pré-alveolar, surda. Como em “santo”. Não deve ser pronunciada como “z”. Ex: sanzará, sacareme, sacá, sabatena.

16- “t”       Oclusiva, dental, surda. Como o “t” em “taco”. Ex: takho, tananago.

17- “u”      Vogal posterior, oral, fechada. Como o “u” português em “tatu”. Ex: urinka, urika zogu.

18- “x”      ainda em pesquisa...

19- “y”      Vogal média, oral, fechada. O som não existe no português e a língua fica em posição para o “u” e os lábios estendidos para o “i”. Ex: yoagó.

20- “z”      ainda em pesquisa















7. ANÁLISE DO CORPUS
A
Ambroar, s.f (barrigada) – abdômen.
Aruano, s.m (cavalo) – mamífero eqüídeo, animal de tiro ou de montaria.
Abaré, s.m ((silêncio) – ausência de ruído, sossego, calma, segredo.
Abrera, V.T.D (prender) – ligar, fixar, capturar.
Aiyo, s.f (bolsa) – sacola com alça, saco.
Adome, s.m (sol) – estrela em torno da qual a terra gira.
Ambera, interj (até logo) – utilizado como despedida.
Ambeko, s.m (menino) -  criança do sexo masculino, filho varão.
Arago, V.Intr. (brigar) – lutar braço a braço, contenda.
Aragu, V.T.D (roubar) – tomar algo (objeto) de alguém mediante violência.
B
Bremen, s.m (bom dia) – saudação à alguém na primeira hora do dia.
Bione, V.Int. (calar) – estar em silêncio, fazer calar.
Batesacar, s.m (feijão) – semente do feijoeiro, feijoeiro.
Batoki / Batroki, s.f (noite escura) – noite sem luz, escuridão.
Batuki / Batyukin, s.m (escuro) – noite, sem claridade, preto.
Betukin, s.m (escuro) – sem luz.
Bengo, s.m.f (preá) – animal mamífero cavídeo.
Beste, s.f (flecha) – seta, haste de madeira ou metal pontiaguda.
Bodaso, s.m (sangue) – líquido avermelhado que quase todos os animais possuem.
Brobo, s.f (língua) – nome que se dá à linguagem do povo Xukuru.
C
Creamun, s.f (abóbora) – fruto da aboboreira,  jirimum.
Caramochar, s.f (arma de fogo) – instrumento de ataque e defesa dos colonizadores portugueses (garrucha).
Cobâ, s.f (banana) – fruto da bananeira, pacova.
Clarigugo, s.m (bispo) – prelado que exerce o governo espiritual de uma diocese.
Coer, s.m (bolso) – saco de pano cozido à roupa, algibeira.
Capixego, s.m (cadáver) – corpo morto.
Criacugokleca, s.m (chapéu) – peça de feltro ou de palha para cobrir a cabeça.
Criximirim,
Camambago, adj.2g. (covardia) – medroso, desleal, traiçoeiro.
Curumen, s.m (carneiro) – mamífero bovídeo, ovelhum, gado lanígero.
Carvio, adj.2g. (doce) – que tem sabor agradável, mel, açúcar.
Clarin, s.m (dia) – claridade, intervalo entre duas noites.
Cupum,
Clarimen, s.f (estrela) – nome comum dos astros luminosos.
Curiaxar, s.f (fava) – planta leguminosa, vagem.
Crexer, s.m (lenha) – madeira, pau.
Clareci, s.f (lua) – satélite natural da Terra.
Curica,
Creamum, s.f (noite) – escuridão, trevas.
Chabatana, s.f (onça) – Jaguar.
Cureco, s.f (pedra) – matéria mineral dura e sólida, rocha, rochedo.
Carepiracha, s.f.m (pessoa avermelhada) – dizia-se do português que chegou ao    Brasil, estrangeiro, rubro.
Caruxar, s.f (rapadura) – açúcar mascavo como pequenos tabletes, raspado e              comido  junto com farinha, em toda a região Nordeste do Brasil.
Clarismom, s.m (sol) – estrela em torno da qual a Terra brilha.
Ca-caêgo, s.f (sujeira) – imundice, porcaria, sujo.
E
Eniye, adj.2g (azul) – da cor do céu, safira.
Estennggo, s.m (fumando) – ato de fumar, bitucando.
Entaiu, s.m (dinheiro) – moeda, cédula.

F
Fuská,
Fonfon, s.m (café) – fruto do cafeeiro, bebida.
Fõfõ, s.m (café) – fruto do cafeeiro, bebida.
Fazer Ombrera, Interj. (chamar para ir embora) – muito utilizada para encerrar uma visita a alguém.
Foi o dé,
G
Gonegomigo, adj. (bonito) – formoso, belo, beleza.
Girimataia, s.f (cobra) – ofídeo venenoso ou não.
Goxe, s.f (tripa) – intestino animal.

H
Hododogu, s.f (cintura) – parte média do tronco humano, cinta.
I
Ien, adj. (bêbado) – atordoado, zonzo, embriagado.
Inxa, s.f (carne) – tecido muscular animal ou humano, comestível.
Iebo, s.m (coelho) – mamífero leporídeo cavador herbívoro.
Intuco, adj. (curto) – de pouco comprimento, pequeno, rápido.
Intaia, s.m (dinheiro) – moeda, cédula.
Imbemer, adv.adj. (de manhã) – pelo amanhecer, cedo, ao raiar do dia.
Ingutemer, adv.adj. (de tarde) –  meio de um dia, tardinha.
Inhen, adjet. (embriagado) – que se embriagou, bêbado.
Inemem, interj. (ô de casa) – muito utilizado quando se chega com visita a casa de alguém.
Imbremem, interj. (ô de fora) – utilizado como resposta ao visitante pelo dono da casa.
Ionji, s.m (olhos) – vista, olhar, órgão da visão.
Impru, s.m (revolver) – arma de fogo portátil.
Irum, adj.2g. (Ruim) – defeituoso, sem préstimo, má qualidade.
Ianam,
Iako, adj. (velho) – que não é novo, pessoa idosa.
Ienken, s.m (patim) – cada um de um par de lâmina usada para deslizar no gelo.
Inemu, s.m (farinha de mandioca) – pó de aipim, de macaxeira, prensado e torrada, sendo muito apreciada na culinária nordestina.
Isa, s.f (carne) – tecido muscular animal ou humano.
J
Jucricrecar, s.m (cabelo) – pelos do corpo humano e de alguns animais, principalmente na cabeça.
Jupago, s.m (cacete) – pedaço de pau com uma ponta mais grossa que a outra.
Jojé, s.f (cintura) – parte média do tronco humano, cinta.
Jurur, V.T.D (defecar) – expelir excrementos, obrar.
Jucrede, s.m (dente) – estruturas dura localizadas na boca, ossos.
Jetir, s.m (espírito) – alma, sobrenatural.
Jibago, adj. (feio) – desagradável, indecoroso.
Jaboi, adj.2g. (grande) – volumoso, longo, poderoso.
Jupegugo, adj. (medroso) – cheio de medo.
Jetuin, s.f (menina) – garota, mocinha, moça nova.
Jetum, s.m (menino) – garoto, moço, curumim, guri.
Jucrêgo, adj. (negro) – preto (raça), sombrio.
Jussar, s.m (vinho de jurema) – bebida alcoólica feita da casaca e da raiz da jurema, planta alucinógena muito usada entre os índios do Nordeste.
Jajé, s.m (joelho) – parte segmentar do membro inferior, entre a coxa e a perna.
K
Kixô, V.T.D (amaldiçoar) – dizer mal de, arrenegar.
Krikri, adj. (boa) – bondosa, misericordiosa, sadia.
Konengo, adj. (bom) – bondoso, misericordioso, sadio, cortês.
Kuró, s.f (brasa) – carvão incandescente, ardor.
Krecar, s.f (cabeça) – extremidade superior do corpo humano.
Kringó, s.f (comida) – próprio para comer, ação de comer.
Kricru, s.f (escuridão) – falta de luz, escuro.
Keijá, s.f (madeira) – lenha, árvore morta, pedaço de pau.
Karatshitshii / Kashishi, s.f (pedra) – rocha, rochedo.
Karuza, s.f (rapadura) – açúcar mascavo como pequenos tijolos.
Kasuvemini, V.T.D (atirar) – lançar, arremessar.
Katengo, s.f.m (cobra) – ofídeo venenoso ou não.
Kazure, s.f (doce) – que não é amargo ou azedo.
Kelarmo, s.f (lua) – satélite natural da Terra.
Keshta, s.f (corda) – fio (cabo) vegetal ou sintético unidos e tecidos uns aos outros.
Kemakwin, s.m (soldado) – posto mais baixo da hierarquia militar.
Kiya, s.m (fogo) – desencadeamento simultâneo de calor.
Kopago, V.T.D (matar) – ato de tirar a vida de outro, animal ou humano.
Kophu araga, s.m (espírito) – sobrenatural, alma.
Kreakrugu, s.m (chapéu) – peça de palha ou feltro com aba para cobertura da cabeça.
Kreo, s.m (pequeno) – de pouca extensão,  diminuto.
Kresuaga, s.f (mulata) – aquela que procede de pai branco e mãe negra ou o contrário.
Krenz, Krenzi, s.m (pau) – lenha, madeira.
krikise, s.f (água) – líquido incolor e inodoro essencial à vida na Terra.
Kringgo, V.T.D (fazer comer) – obrigar alguém a comer? cozinhar?
Kriphu, s.m (menino) – garoto, curumim.
Krisise, interj. (está chovendo) – chuva torrencial.
Kriya, s.m (fósforo) – haste de madeira com cabeça que se queima em contato com atrito e ar.
Kuphu, s.m (morto) – cadáver, defunto.
Kureko, s.f (cabeça) – extremidade superior do corpo humano.
kurike, s.f (fava) – planta leguminosa cujo fruto é uma vagem.
Kuriko, s.f (maca) – cama de lona portátil, padiola.
Kurisiba, s.f (lagartinha) -  pequenina larva de borboleta.
Kusa, s.m (piolho) – insetos mastigadores, parasitas.

L
Limolaigo, s.f (terra) – solo.
Lambromão, s.m (trabalho) – serviço, emprego, atividade, labuta.
Liopipom, s.f (bisavó) – mãe de avó ou de avô.
Lamum, s.f (farinha) – cereais moídos (mandioca, milho), pó.
Labudu, s.m (carneiro) – quadrúpede ruminante lanígero.
Lemulago, s.f (terra) – solo.
M
Memengo, s.m (bode) – cabrão, macho da cabra, caprino.
Marim, s.m (gado/boi) – animal usado como alimento e tração na lavoura, bovídeo domestico com chifres ocos.
Maruano, s.m (burro) – jumento, asno.
Mangéru, s.m (fumo) – tabaco.
Memby, s.f (gaita) – instrumento de sopro, pequena flauta.
Mancha, s.f (manga) – fruto da mangueira.
Marau, s.f (raiva) – sentimento de ódio.
Maze, s.m (fumo) – tabaco
Menyin, s.f (vasilha) – panela.
Moi, s.f (panela de barro) – utensílio para cozinhar alimentos.
Murisha, V.T.D (dormir) – ato de adormecer.
Mutego, V.T.D (fazer correr) – ato de obrigar outro a andar ligeiro, com rapidez.
N
Nantu, s.m (tatu) – nome comum dado aos dasipodídeos.
Noiem, V.Int. (falar) – conversar, dialogar.
Nhoénbia, s.f (calar a boca) – ficar mudo, sem falar, em silêncio.
Naiye Biago / Naiyetigore, adjet. (quieto) – aquele que não se agita.
Nanegu, adjet. (cansado) – que se cansou, estafado.
Nggutimae, (duas horas da tarde).
O
Okor, adjet. (branco) – alvo, com cor mais clara, pálida.
Ombrian, subs.2g. (camarada) – amigo, companheiro, colega.
Ombrera, V.Int. (correr) – deslocar-se com velocidade, rapidez.
Opip, s.m (filho) – pessoa do sexo masculino em relação aos pais.
Ombrera Montogue, V.Int. (viajar) – fazer viagem, andar por.
Opigomen, s.f (boca) – parte do corpo humano por onde se introduz alimentos que são mastigados e ingeridos.
P
Piracir, pronome de tratamento (você)
Pipiu, s.m (rato) – nome comum a vários roedores.
Pingomar, V.T.D (ouvir) – escutar, entender, perceber sons.
Póia, s.m (pé) – membro inferior do corpo humano, extremidade.
Pujú, s.m (porco) – suíno.
Pirara, adj. (muito) – abundante, intenso, demasia.
Pajuru, s.m (cacique) – morubixaba, chefe indígena.
Proxiquimer, Interj. (com licença) – pedido gentil, chamamento de atenção.
Pitingo, s.m (carro) – veículo com rodas para transporte de pessoas ou de carga.
Pucreron, s.f (abelha) – inseto produtor de mel, retirado do pelem das flores.
Pepesaka, s.m (peru) – ave domestica parecida com uma galinha.
Piphiu, s.f (onça) – jaguar.
Pirasa, s.m (branco) – cor dos colonizadores que chegaram as terras indígenas.
Porou, s.f (abóbora) – jerimum.
Pre, s.2g (chefe) – líder, pessoa que comanda, dirigente.
Pro, adjet. (velho) – que não é novo, pessoa idosa.
Ptsenge, s.m (cavalo) – quadrúpede domestico, solípede.

Q
Quirigo, adj. (comedor) – pessoa que come muito, apetite voraz.
Quiá do limo laigo, s.f (matas) – florestas, selvas, mato.
Quibunge, s.f (panelas) – vasilhas de barro ou de metal usadas para  o cozimento de alimentos.
Quite, s.m (sem dinheiro) – falta de moeda, grana, jabá.
S
Suacar, s.f (arapuca) – armadilha para passarinhos.
Sanzará, s.f (cabra) – fêmea do bode.
Sedear, s.m (cigarro) – pequena porção de fumo picado, enrolado em papel.
Sacarema, s.f (mulher) – ser humano do sexo feminino.
Sacolejo, s.m.f (preá) – animal roedor comum no Nordeste brasileiro, muito apreciado como alimento.
Sacá, s.m (peru) – ave domestica parecida com uma galinha, só que muito maior.
Soian,
Saka, s.m (feijão) – fruto do feijoeiro.
Sanupi, s.m (velho) – que não é novo, pessoa idosa.
Sazara, s.f.m (cobra) – ofídeo venenoso ou não.
Sikrin, s.m (nariz) – aparelho olfativo do ser humano e animais, narinas.
Sabatenna, s.m.f (cobra) ofídeo venenoso ou não, serpente.
Sababute, adjet.2g. (peba) – chato. s.m (tatu de cabeça achatada)
Sadure, s.m (cachimbo) – aparelho para fumar.
Sapruiz, s.f (titica) – fezes em geral.
Segu / Sigru / Sigu, s.m (milho) – cereal largamente utilizado na alimentação básica dos ameríndios do Nordeste brasileiro e pela população de um modo geral.
Seki / Sikh, s.f (casa) – lar, moradia, habitação.
Setkibungu, s.m (prato de barro) – utensílio usado para colocar o alimento cozido ou não.
Sikregugu, s.m / adjet. (ladrão) – que ou aquele que rouba.
Sikregu, V.T.D (roubar) – tomar de alguém (objeto) mediante ameaça ou violência.
Sosogu, s.m. Bras. (beiju) – bolinho achatado de massa de tapioca.
Sukuruiz, s.m.f (Xukuru) – nome da tribo, etnia.
Suraki, interj. (está com fome?) – pergunta comum perto da hora do almoço ou em qualquer outro horário.
T
Toipe, s.m (velho) – pessoa muito idosa, antiga.
Tianam, Interj. (venha cá) – chamado comum entre a população nordestina.
Tinkin, s.m (sal) – cloreto de sódio, usado como condimento na comida e alimentos.
Tipo, s.f (raposa) – canídeo selvagem semelhante a um cachorro de pequeno porte.
Taco, s.f (roupa) –
Toipa, s.f (mãe) – ser humano ou animal que deu a luz a filhos ou filhotes.
Tiloé, s.f (faca) – instrumento cortante com lamina e cabo.
Toê, s.m (fogo) – combustão, incêndio, luz e calor.
Tapuca, s.f (galinha) – fêmea do galo, ave fasianídea.
Ticaca, s.m (gambá) – mamífero didelfídeo, muito fedorento quando exala um extrato de seu corpo como defesa.
Totongo, s.m (gato) – mamífero felídeo domestico.
Tupã, s.m (Deus) – ser onipotente, infinito, perfeito.
Toieguego, s.f (doença) – falta de saúde, perturbação.
Tataramen, adv. (de noite) – escuro, escuridão.
Toiope, s.f (avó) – mãe do pai ou da mãe.
Toiam, s.m (avô) – pai do pai ou da mãe.
Tataramem, s.f (boa noite) – saudação após as dezoito horas.
Tazapa, s.f (alpercata) – sandália sem salto presa aos pés com tiras, comum no nordeste brasileiro.
Tamain, s.f (Nossa Senhora das Montanhas) – natureza, terra.
Taiepu, s.m (velho) – que não é novo, pessoa idosa.
Taiophu, s.m (pai) – progenitor, que deu ser a outro.
Taispu, s.m (caboclo) – mestiço de branco com índio.
Taiyen, s.m (bebo) – ato de tomar uma bebida, ingerir bebida.
Takaenye, adjet. (verde) – cor  das ervas, das matas, esmeraldas.
Takazu Krega, s.f (preta) – negra, escura.
Takazu Pu, adjet. (preto) – cor do ébano, do carvão, escuro, negro.
Take Aragu, s.f (roupa rasgada) – vestimenta em trapos, maltrapilho.
Takho, s.f (roupa) – indumentária, vestimenta, traje.
Tananago, s.m.f (pessoa ruim) – má índole, maldoso(a).
Tapuka, s.f (galinha) – fêmea do galo, ave fasianídea.
Tapuke, s.m (pato) – ave anatídea.
Takemarau, s.m (trovão) – ruído causado por descarga elétrica na atmosfera, grande estrondo.
Tentengu / Tatangu, s.m (gato do mato) – uma espécie de mamífero da família dos felídeos muito parecido com um gato só que maior.
Tinengo, s.f (saia) roupa ou vestimenta feminina.
Toe, s.f (brasa) – carvão incandescente, calor intenso.
Tshioko, s.f (mãe) – mulher ou qualquer fêmea que deu a luz a um ou mais filhos ou filhotes.
U
Ucrin, V.T.D (comer) – alimentar-se, mastigar alimento.
Uriaxar, adj.2g. (verde) – cor mais comum nas plantas.
Urinca, s.f (cachaça) – aguardente de cana, birita, pinga, caninha.
Urinir, s.m (desgostoso) – descontente, desagradável.
Uatacaca, s.f (menstruação) – fluxo sanguíneo da mulher  que ocorre uma vez por mês.
Uegwe, s.f (mentira) – ato ou efeito de mentir.
Urika Zogu, s.f (aguardente) – bebida alcoólica fermentada (40/60%).
Urinka, V.T.D (fazer beber) – abrigar outro ou alguém a beber.
V
Vuge, s.m (feitiço) – bruxaria, magia, mágica.
X
Xuar, s.f (água) – liquido incolor essencial à vida humana na Terra.
Xeium, V.Intra. (assoviar) – sibilar, dar assobio(s).
Xoxógo, s.m (beiju) – bolinho achatado de massa de mandioca.
Xanduré, s.m (cachimbo) – aparelho para fumar, pito.
Xabatuté, s,m (cágado) – nome que se dá a varias tartarugas de água doce.
Xacon, V.T.D (casar) – unir por casamento, matrimônio, nubentes.
Xurumin, s.f (chuva) – precipitação atmosférica formada por gotas de água.
Xicudo, s.m (cachorro) – cão de pequeno porte muito comum nas aldeias indígenas.
Xabá, s.m (calçado) – peça do vestuário (exceto a meia) para os pés).
Xeke, s.f (casa) – lar, habitação.
Xener, s.f (flor) – órgão ou parte reprodutora das plantas.
Xuraque, s.f (fome) – avidez, apetite muito grande por comida.
Xurucreba, s.m (facão) – faca grande, sabre, espada.
Ximineu, s.f (fumaça) – grande quantidade de fumo que é absorvida pelo fumante.
Xiam, adj. (frio) – que não tem calor, baixa temperatura.
Xenupre, s.m / adj. (índio) – primeiro habitante do Brasil e das Américas.
Xiurijar, s.m (irmão) – filho do mesmo pai e da mesma mãe.
Xacoba, s.f (mandioca) – macaxeira, aipim.
Xurumer, s.f (massa) – quantidade de matéria sólida ou pastosa.
Xurumer xacoba, s.f (massa de mandioca) – mandioca prensada para tirar a água, muito utilizado para a elaboração da farinha de mandioca.
Xiquin, s.m (milho) – cereal usado para alimento do homem e de vários animais.
Xeque, s.f (morada) – lugar, casa, habitação.
Xicrin, s.m (nariz) – parte do aparelho respiratório do ser humano, olfato.
Xicuman, s.m.f (relação sexual) – sexo, coito.
Xicruma, adj. (reto) – sem curva, direto.
Xacre, s.m (riacho) – ribeiro, rio pequeno, córrego.
Xicregugo, V.T.D (roubar) – tomar de alguém por ameaça dinheiro ou bens.
Xiegregu, s.m (roubo) – ato de roubar, o que se rouba.
Xabá,
Xacrego, V.Intr. (urinar) – expelir urina pela via natural.
Y
Yoagó, adj. (comprido) – longo, extenso, alto.

Z
Zari, s.m (titica) – pop. excremento em geral
Zatiri, s.f (perna fina) – membro inferior do corpo humano.
Zegu, V.Intr. (urinar) – expelir urina pela via natural.
Zetona, s.m (gato) – mamífero felídeo domestico.
Zezé, s.m (joelho) – região da articulação da coxa com a perna.

























8. CONSIDERAÇÕES

Dentro do nosso trabalho, observando o pouco que até agora foi apurado com referência à pesquisa, alguns fatos nos chamaram a atenção:
 1) Nos vocábulos Clarici (lua), Clarin (dia) e Clarismom (sol), ocorre a manutenção radical CLARI, o que nos leva a lembrar de vocábulos portugueses como Claro, Claridade, Clarificar, etc. Não seria indício de uma influência latina?  
2) O vocábulo Xuar nos faz lembrar a onomatopéia portuguesa Chuá, que indica o som da água.

3) A pesquisa segue na busca do conhecimento da estrutura da língua do povo XuKuru, da análise morfológica,  sintaxe, bem como de todo o corpo lingüístico que forma a mesma. Porém, queremos dar muito mais ênfase ao fato da dominação da língua portuguesa na língua Xukuru e, qual o real teor de influência de uma sobre a outra.

4) Em comparação que fizemos entre diversas línguas e dialetos dos ameríndios na busca do elo perdido da linguagem do povo Xukuru do Ororubá, encontramos alguns fatos que nos chamaram a atenção:
a) vocábulos com a mesma grafia, mas com significado diferente:

            Língua                                  Vocábulo                              Significado
            Tupi[2]                                          Abaré                                       Padre
            Tupi – Guarani[3]                        Abaré                                        Amigo
            Xukuru do Ororubá                   Abaré                                      Silêncio

5) Vocábulos com grafias diferentes, mas com sonoridade / fonética iguais e significados idênticos:
            Língua                           Vocábulo                                  Significado
            Tupi                                Aîo                                          Bolsa / Saco
            Xukuru do Ororubá                   Aiyo                                        Bolsa / Saco
6) Encontramos dentro da própria estrutura lingüística da Etnia Xukuru do Ororubá vocábulos  grafados de maneiras diferentes, mas com significados idênticos.
a) Feijão:         Batesacar
                        saka
b) Fava:           Curiaxar
                        Kurike
c) Lua: Kelarmo
                        Clarici
d)  Café:         Fonfon           
                        Fofo
e)  Carne:        Isa
                        Inxa
f)  Dinheiro:    Entaiu
                        Intaia
g)  Cintura:     Hododogu
                        Jojé
h)  Menino:     Jetum
                        Ambeko
                        Kriphu
j)  Espírito:      Jetir
                        Kophu Araga
k)  Velho:        Taiepu
                        Aiko
                        Sanumpi
                        Toipe
                        Pro
l)  Gato:          Zetona
                        Totongo
m) Deus:         Tupã
                        Tupen
n)  Abóbora:   Porou
                        Creamum
o)  Morto:       Kuphu
                        Cupum
                        Capixego
p)  Doce:         Carvio
                        Kazure
q)  Cobra:        Girimataia
                        Katengo
                        Sazaca
                        Sabatenna
r)  Dia: Adame
                        Clarin
s)  Escuro:       Batoki
                        Batyukin
                        Kricru
                        Batroki
                        Betukin
                        Batukin
                        Creamum
t)  Roubar:      Sikrego
                        Aragu
                        Sikrugo
u)  Roupa:       Taco
                        Takho
v)  Chapéu:     Kreakrugu
                        Criacugokreca
x)  Carneiro:    Labudo
                        Curumen        







9. CONCLUSÕES SOBRE A PESQUISA.


Encontramos algumas peculiaridades (poucas) entre a língua dos Xukuru do Ororubá e Xukuru – Kariri, nos seguintes vocábulos:
  • Clarismon = Sol
  • Pajé = feiticeiro, homem da medicina, curandeiro
  • Toré = dança sagrada ritualística dos nativos nordestinos
  • Tupã = Deus, criador de tudo

Pelo que foi exposto, podemos então presumir que:


                    PANCARARU
                                                                                                   
                    XUKURU                                                      Nação   TAPUIA/CARIRI         
                                                                                                   
                    PARATIÓ



Sendo assim, seguindo nossa suposição, não será errado classificar  a língua dos Xukuru do Ororubá como pertencendo ao tronco Macro-Jé e, colocá-la entre as línguas deste tronco como mostramos na tabela baixo, que compõe  junto com os Troncos Tupi e Aruák a classificação das famílias lingüísticas, das línguas e dos dialetos conhecidos e aceitos. 

TRONCO MACRO-JÊ

FAMÍLIA                              LÍNGUA                                           DIALETO
1. Borôro                                            1.1. Borôro
                                                           1.2. Umotína
                                                           1.3. Botocudo                        1.3.1. Krekmún
                                                                                                                      1.3.2. Naknanúk
                                                                                                                      1.3.3. Djiporóka
                                                                                                                      1.3.4. Bakuên
                                                                                                                      1.3.5. Pojitxá
                                                                                                                      1.3.6. Krenák
                                                                                                                      1.3.7. Nakrehá
                                                           1.4. Iatê (Fulni-ô)  
                                                           1.5. Ofayé
                                                                                                                      1.0.5.1. Karaja
                                                                                                                      1.0.5.2. Javaé
                                                           1.6. Guató

2. Coroado                                         2.1. Coroado
                                                           2.2. Purí
                                                           2.3. Koropó

3. Jê                                                    3.1. Timbira                                        3.1.1. Canela
                                                                                                                      3.1.2. Krikati
                                                                                                                      3.1.3. Tajé
                                                                                                                      3.1.4. Krejé
                                                                                                                      3.1.5. Apinayé
                                                                                                                      3.1.6. Krahó
                                                                                                                      3.1.7. Gavião
                                                                                                                                 do
                                                                                                                                 Tocantins
                                                                                                                      3.1.8. Apiniêkra

                                                           3.2. Kayapó                                       3.2.1. Kradaú
                                                                                                                      3.2.2. Xikrin
                                                                                                                      3.2.3. Dióre
                                                                                                                      3.2.4. Gorotíre
                                                                                                                      3.2.5. Kubén
                                                                                                                                 Kran
                                                                                                                                 Kegn
                                                                                                                      3.2.6. Kubén
                                                                                                                                 Kragnotíre
                                                                                                                      3.2.7. Txukahámãi
                                                                                                                      3.2.8. Kayapó do
                                                                                                                                 Sul
                                                           3.3. Suya
                                                           3.4. Akwên                                        3.4.1. Xavante
                                                                                                                     3.4.2. Xerente
                                                                                                                      3.4.3. Xikriabá
                                                           3.5. Kaingáng                         3.5.1. Kaingáng do
                                                                                                                                 Centro
                                                                                                                      3.5.2. Kaingáng do
                                                                                                                                 Sul
                                                           3.6. Xokleng
                                                           3.7. Jeikó

4. Kamakã                                                                                                    4.0.1. Kamakã
                                                                                                                      4.0.2. Mongóyo
                                                                                                                      4.0.3. Kotoxó
                                                           4.1. Meniên
                                                           4.2. Masacará

5. Kariri                                              5.1. Kariri                                           5.1.1. Kipeá
                                                                                                                      5.1.2. Dzubukuá
                                                                                                                      5.1.3. Sabuyá
                                                           5.2. XUKURU

6. Maxakali                                        6.1. Maxakali
                                                           6.2. Makoní
                                                           6.3. Monoxó
                                                           6.4. Kapoxó
                                                           6.5. Pataxó
                                                           6.6. Malalí
Como todo trabalho de pesquisa, estamos e estaremos sujeitos e abertos para receber contribuições que possam somar ao trabalho, pois, sabemos que este pequeno passo em busca da língua da Etnia Xukuru do Ororubá é apenas o começo de uma longa jornada, cheia de percalços, mas que suscita muita alegria na busca de conhecimentos.





























 10. REFERÊNCIAS

  • Centro Luiz Freire.  Xukuru Filhos da Mãe Natureza. Uma História de Resistência e Luta. Olinda – PE. 2000.
  • FARACO, Carlos Alberto. Lingüística Histórica. São Paulo: Àtica, 1998.
  • FIGUEIRA, Divalte Garcia. História – Novo Ensino Médio. São Paulo: Ática, 2002.
  • HOEBEL, E. Adamson, FROST. Everett L.  Antropologia Cultural e Social. São Paulo: Cultrix, 1976.
  • LYONS, John.  Linguagem e Lingüística – Uma Introdução.  Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Ltda – LTD, 1987.
  • MARROQUIM, Mário. A Língua do Nordeste. Curitiba: HD Livros Editora, 1996.
  • OLIVEIRA, Ana Maria Pinto  & ISQUERDO, Aparecida Negri (Org). As Ciências do Léxico: Lexicologia, Lexicografia, Terminologia. Campo Grande/MS: Ed. UFMS, 1998.
  • SAUSSURE, Ferdinand.  Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1999.
  • TURAZZA, Jeni Silva. Léxico e Criatividade. São Paulo: Plêiade, 1996.                                    







[1] Também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande do Norte, divididos em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó), e eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas, e entre os mais destacados eram os reis Janduí e Caracar, cujo poder real não era hereditário.

[2] língua Tupi – Guarani encontrada em um dialeto falado por indígenas  do Paraguay e que recebeu influência do espanhol.
[3] língua baseada na obra do Pe. José de Anchieta “Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil”.